segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

A HISTÓRIA DO BEIJO



Se o primeiro beijo foi dado na pré-história, ninguém sabe, ninguém viu (ou, pelo menos, ninguém registrou). Não há desenhos em cavernas, artesanatos ou pinturas em tecidos que indiquem o costume de encostar os lábios entre nossos ancestrais. Nem a civilização egípcia, prodigiosa em suas expressões artísticas e provas documentais, que retratou em pinturas e esculturas seus hábitos de caça, alimentação e até suas relações sexuais, deixou qualquer traço que pudesse sugerir um beijo.





As mais antigas referências do beijo na boca vieram do Oriente, mais precisamente dos hindus. Há um registro de aproximadamente 1200 a.C., no livro védico Satapatha (textos sagrados em que se baseia o bramanismo), recheado de sensualidade: “Amo beber o vapor de seus lábios”. Mais explícito e  malicioso, o Mahabarata (poema épico com mais de 200 mil versos, compilados em aproximadamente 1000 a.C.) descreve: “Pôs a sua boca em minha boca, fez um barulho e isso produziu em mim um prazer”.

Algum tempo depois, outro texto indiano, o Kama Sutra, um compêndio sobre os preceitos do prazer escrito entre 400 e 200 d.C., apresentou uma versão mais amadurecida sobre o assunto, com cerca de 200 passagens detalhando a prática, a moral e a ética do beijo. 







A importância do Kama Sutra não é só a de fornecer talvez o primeiro glossário sobre o tema. Ele é a principal referência para determinar a idade do beijo. Segundo o antropólogo americano Edgar Gregersen, em seu livro Práticas Sexuais – A História da Sexualidade Humana, o texto tem um importante papel histórico, pois dá a pista de que o costume de beijar representa uma continuação de tradições muito anteriores. “O Kama Sutra está repleto de referências históricas e geográficas que remetem a tradições antigas. A partir dele podemos rastrear as origens do beijo e concluir que ele é mais velho que a civilização hindu e mais jovem que a pré-história”, afirma Gregersen.


Alexandre, o Grande beijador

Alexandre , O Grande


Se os hindus foram pioneiros ao descrever suas aventuras bucais, os invasores de suas terras devem ter sido os primeiros difusores da prática: os soldados de Alexandre, o Grande. Eles dominaram parte da Índia, entre 327 e 325 a.C., e, quando partiram para outras terras, levaram na bagagem esse ensinamento lascivo. A partir de então, por onde passavam, em sua trilha de guerras e conquistas, espalharam o hábito de beijar.


Foi mais ou menos assim – entre tapas e beijos –,e por essa época, que o hábito estreou em grande estilo na capital do mundo antigo: Roma. Lá, com os requintes do tempero local, ele desmembrou-se em três versões: 
  • o osculum, o beijo de amizade; 
  • o basium, mais sensual, entre homem e mulher; 
  • o savium, que o poeta Ovídio definiu como “de língua, voluptuoso e vergonhoso”. 
Outro poeta romano, Catulo, descreveu-o como “mais doce do que o doce da ambrosia”.





O BEIJO PARA OS GREGOS

Para os gregos o beijo tinha funções protocolares, quase burocráticas: beijava-se para selar um acordo e para demonstrar respeito. Os cidadãos de mesmo nível social encostavam os lábios. Se um deles era de uma casta inferior, o beijo era no rosto. E quando a diferença social era ainda maior, os lábios de um desciam aos pés do outro.


A IGREJA CRISTÃ PROÍBE O BEIJO




Se até então tudo era festa, a partir do século IV os beijoqueiros passaram a enfrentar uma crescente oposição da Igreja Cristã. 
Incomodada com a sensualidade do beijo e preocupada em eliminar esse símbolo do Império Romano, ela o instituiu como um gesto religioso, de adoração às imagens dos santos e louvação a Deus. 
Nos anos de trevas que se seguiram na Europa, ao longo da Idade Média, o beijo permaneceu ilícito e perigoso, acusado de propagar doenças do corpo e da alma
Mas, mesmo com todas as restrições, ele resistia e ganhava adeptos. Tanto que, no século XII o Papa Inocêncio III travaria uma verdadeira cruzada contra o inimigo, banindo-o dos ritos religiosos e proibindo-o na vida mundana. “Beijo com objetivo de fornicação é pecado mortal, mesmo que a fornicação não se consume”, dizia o édito de Sua Santidade. Tarde demais. O beijo já fazia parte dos hábitos sociais e íntimos dos casais.

No século XVII, já glamourizado e muito popular nas cortes europeias, o beijo de língua, o savium dos romanos, ganhou o nome que tem até hoje: beijo francês. Na época, os puritanos ingleses ficaram impressionados com o grau de libertinagem que caracterizava o beijo em terras gaulesas. 
Pelas mãos da Inglaterra, os franceses ficariam para sempre conhecidos aos olhos do mundo pela volúpia com que se entregavam às carícias labiais. O curioso é que, na França, o beijo de língua ficou conhecido como beijo inglês. Mais do que revanchismo, os franceses associavam o beijo de língua à importância que os ingleses davam àquela forma de beijar, que para eles era tão comum.                                                                                              





O BEIJO DOS PRÉ-COLOMBIANOS


Existe certo paralelismo histórico no que toca à trajetória do beijo. Nem todo esporte labial de alcova advém dos hindus. Na Antiguidade, populações pré-colombianas viam no ato de unir os lábios um gesto quase suicida
“Eles acreditavam que a alma poderia sair pela boca e que o beijo era uma maneira de arrancá-la do corpo”, afirma o antropólogo Fernando Segolin, professor da PUC de São Paulo. 
Ou seja, havia o beijo, mas com um sentido completamente diferente da tradição indo-europeia. (Que, felizmente, é a que chegou até nós.) O contato labial era geralmente ritual e simbolizava a intenção de comer a outra pessoa, uma manifestação do aspecto antropofágico dessas culturas.


VOCÊ SABIA QUE OS ÍNDIOS BRASILEIROS

 NÃO BEIJAVAM NA BOCA?

 Os índios brasileiros, apesar de serem conhecidos pela maneira espontânea com que lidam com o sexo, a nudez e as demonstrações de carinho, não beijavam antes da chegada dos europeus.
 “Não é uma questão de pudor, tabu ou medo. O beijo simplesmente não fazia parte dos hábitos afetivos da maioria dos índios, soava como algo estranho, sem sentido”, diz a antropóloga Betty Mindlin, da PUC de São Paulo. 

OS JAPONESES NÃO TINHAM 

UMA PALAVRA PARA DESIGNAR O BEIJO

Menos indiferentes, mas também reprovadores, os japoneses, até a metade do século XX, não tinham sequer uma palavra para designar o beijo. Quando foi exposta em Tóquio, em 1924, a escultura O Beijo, de Auguste Rodin, célebre artista francês, gerou protestos inflamados. 


O Beijo, de Auguste Rodin


Só a partir da influência norte-americana no Japão, na segunda metade do século XX, o beijo passou a ser chamado de kissu, importado do kiss inglês. Segundo Otto Best, filósofo alemão e professor de Literatura da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, o repúdio ao beijo no oriente não está ligada ao beijo em si, mas ao caráter público da intimidade. 

“Por muito tempo se pensou que os japoneses não se beijavam. Hoje, sabe-se que, a exemplo dos chineses, eles mantinham esse hábito, mesmo antes da influência ocidental, porém de maneira discreta, restrita à intimidade dos casais. Ainda hoje, os japonese mantêm uma certa resistência em beijar em público”.


POR QUE NOS BEIJAMOS?





De início, é preciso dizer que parece não haver relação entre o ato de beijar e qualquer instinto primordial e inato. Há mais de um século, o próprio Charles Darwin tratou do assunto no livro A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, de 1872. “Nós europeus estamos já tão habituados ao beijo como um sinal de afeto, que o poderíamos considerar como inato para a humanidade. No entanto, não é o caso”, escreveu Darwin.

Só os humanos se beijam. Há comportamentos similares nos animais, mas nenhum com conotações sexuais e emocionais. Segundo Otto Best, considerado o pesquisador que mais se aprofundou no tema – seus dois livros sobre o assunto, Der Kuss, Eine Biographie (“O Beijo, Uma Biografia”) e Die Sprache der Kusse (“A Língua dos Beijos”), ambos inéditos no Brasil, são considerados referências obrigatórias –, o hábito de beijar carrega heranças culturais e naturais, as duas passadas de mãe para filho. 

“O aspecto instintivo se baseia na alimentação boca-a-boca, praticada por povos primitivos e herdada de nossos ancestrais. Já o beijo cultural surgiu como um símbolo para demonstrar afeto e intimidade” 
(Otto Best).





Para o antropólogo Vaughn Bryant, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, deve haver uma raiz comum entre o beijo moderno e nossos hábitos primevos. Mas ela poderia, no máximo, indicar uma motivação para o prazer. 

“O beijo pode ter evoluído do hábito de lamber o corpo de outros de nossa espécie, durante os rituais de catação de parasitas, ou da troca de alimentos entre mãe e cria, ambos comportamentos comuns à maioria dos primatas” (Vaughn Bryant) 

Ele crê ter sido o olfato que nos aproximou. 

“O beijo é um comportamento aprendido e arrisco dizer que surgiu como uma saudação proveniente do hábito de nossos ancestrais de cheirar os corpos uns dos outros. Eles tinham o olfato muito desenvolvido e identificavam pelo faro, não pela visão, seus parceiros sexuais” (Vaughn Bryant).

 A prática teria evoluído para o beijo, quando o homem primitivo percebeu que unir as bocas era mais prazeroso que friccionar os narizes.
Ainda assim, o beijo com o nariz persiste até hoje. 

“Nas ilhas do sul do Pacífico, por exemplo, não existe o hábito de unir os lábios, mas sim o de esfregar os narizes em sinal de afeto ou disposição sexual” (Vaughn Bryant).


O QUE ACONTECE DURANTE O BEIJO?





Durante o beijo você:
  •  movimenta 29 músculos, dos quais 17 são da língua. 
  • Os batimentos cardíacos aceleram, vão de 60 a 150, fazendo uma espécie de exercício pro coração. 
  • Um beijo caprichado gasta em média 12 calorias. 
  • o beijo estimula a liberação de hormônios que causam bem-estar. 
  • Na troca de saliva, a boca é invadida por cerca de 250 bactérias, 9 miligramas de água, 18 de substâncias orgânicas, 7 decigramas de albumina, 711 miligramas de materiais gordurosos e 45 miligramas de sais minerais.


A IMPORTÂNCIA DO BEIJO PARA A HISTÓRIA





Acreditam alguns que o ato do beijo não é natural, mas que com o tempo fora aprendido.Que o hábito tem origem na relação mãe e filho. Há milhares de anos, depois de sugar o peito, a criança recebia alimentação sólida mastigada pela mãe e passada à boca, como fazem certos tipos de aves. O que contraria certas culturas da Nova Guiné e do sudoeste da África que tinham o hábito de fornecer comida mastigada aos bebês, mas nunca se beijaram até ter o primeiro contato com europeus. 

Alguns historiadores acreditam que o beijo está relacionado ao ato de cheirar e de reconhecer pelo odor os indivíduos de uma mesma família.

O beijo é um fator muito importante no relacionamento e repleto de significados para homens e mulheres. Algumas prostitutas, por exemplo,não beijam porque o ato de beijar significa ter intimidade. 


O BEIJO: UM ATO SAGRADO

Desde a época de Cristo, o beijo já possuía sua importância, como o famoso beijo de Judas.

O beijo de Judas

 Considerado um dos beijo mais famosos do mundo, foi o beijo que Judas Iscariotes usou para trair Cristo antes da crucificação dele. Um beijo que possui profundo significado nas práticas espirituais cristãs.


O BEIJO NA IDADE MÉDIA

Na Idade Média Idade Média, o beijo foi também uma demonstração de status na sociedade. Os súditos de um rei deveriam antes beijar seu anel, seu manto, suas mãos, ou mesmo o chão. Da mesma forma, as pessoas pressionavam os seus lábios no anel do papa. O beijo na boca representava uma espécie de contrato entre o senhor feudal e o vassalo (significava “dou minha palavra”). 


CURIOSIDADE!!

Foi apenas no século XVII que os homens acabaram com o hábito de beijar uma pessoa do mesmo sexo, sem afeto envolvido.


DO SAGRADO AO COMUM





Não há muitos registros sobre os beijos no mundo ocidental até a época do Império Romano. Os romanos costumavam usar o beijo para o cumprimento de amigos e familiares. Os cidadãos beijavam a mão do Imperador e, naturalmente, as pessoas beijavam seus parceiros. 

Os romanos tinham três categorias para o beijo:

*osculum era um beijo na bochecha

*basium era um beijo nos lábios

*savolium era um beijo profundo

O beijo também teve sua função nos primórdios da Igreja Cristã. Os cristãos com frequência se cumprimentavam com um osculum pacis: beijo sagrado. De acordo com essa tradição, o beijo sagrado causava uma transferência de espírito entre as duas pessoas que se beijavam. A maioria dos pesquisadores acredita que o objetivo desse beijo era estabelecer vínculos familiares entre os membros da igreja e fortalecer a comunidade.

Até 1528, o beijo sagrado era parte da missa católica. No século XIII, a Igreja Católica o substituiu por um cumprimento de paz

A Reforma Protestante no século XVI removeu totalmente o beijo da prática protestante. Na verdade, o beijo sagrado não exercia uma função na prática católica religiosa moderna, embora alguns cristãos beijem símbolos religiosos, como o anel do Papa, por exemplo.

Embora, atualmente, poucos religiosos incorporem o beijo sagrado, o beijo ainda prevalece na cultura ocidental

Hoje em dia, as pessoas se beijam em várias situações por motivos diversos. Todavia, nem todos os beijos são felizes e de alegria. Obras da literatura como "Romeu e Julieta" descreveram beijos como "perigosos" ou "mortais" quando compartilhados com as pessoas erradas. Alguns estudiosos do folclore e críticos literários vêem o vampirismo como um símbolo dos perigos físicos e emocionais decorrentes de se beijar a pessoa errada.

O beijo está em todo lugar. Na história, literatura, religião, música, filmes, na tv, e até na astrologia, onde alguns acreditam que existem tipos de beijos para cada signo e que há combinações.


NA ARTE


Uma das mais famosas pinturas do mundo sobre o assunto é O beijo (original: Der Kuss, 1907-1908), a obra-prima de Gustav Klimt. Um quadro extremamente simbólico e belo, extravagante, dotado de erotismo e poesia. Cujo alguns especialistas afirmam que o quadro seria um retrato de Klimt com Emilie Flöge,(Viena, 1874 – Viena 1952) – eterna companheira e musa do artista.


O PRIMEIRO BEIJO DO CINEMA


Este foi o primeiro beijo do cinema. Do filme O Beijo (1896), filmado por Thomas Edison, com apenas 26 segundos. O filme foi protagonizado por John C. Rice e May Irwin. Na época, beijar era uma coisa para se fazer apenas entre 4 paredes.


SAIBA MAIS AQUI

Fonte: Superinteressante, Obvious



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