segunda-feira, 19 de setembro de 2016

CONFLITO ENTRE A IGREJA E IMPÉRIO BRASILEIRO

Apesar de a maior parte da população viver à margem dos preceitos do catolicismo, esta era a religião oficial do estado brasileiro. As atribuições do clero estavam descritas na Constituição de 1824 e o imperador interferia nas questões da Igreja através do padroado e do beneplácito


O padroado permitia ao monarca sugerir nomes para os cargos eclesiásticos mais importantes, só dependendo de uma confirmação do papa

O beneplácito estipulava que todas as bulas pontifícias, mesmo aquelas que tratassem de questões estritamente religiosas, como os rituais litúrgicos, deveriam ser submetidas ao imperador

Elas só teriam validade no Brasil após sua aprovação, o que provocava insatisfação do papado. As relações entre os dois poderes eram tão estreitas que os padres, que recebiam proventos do governo, exerciam atribuições inerentes ao estado, como registros de nascimentos, casamentos e óbitos. Eram quase "funcionários públicos"

Esta situação só se alterou com a República.


Frei Vital Maria
Papa Pio IX
As relações entre a Igreja e o Império começaram a entrar em crise quando o Frei Vital Maria, bispo de Olinda, decidiu colocar em prática, em 1872, a bula Sylabbus, publicada pelo papa Pio IX oito anos antes. 



O documento proibia a ligação entre católicos e maçons, amplamente praticada no país, inclusive pelos principais personagens políticos do período. 

Frei Vital determinou que o clero não celebrasse missa para comemorar a fundação da loja maçônica pernambucana e ordenou às confrarias religiosas que expulsassem seus membros ligados às "sociedades secretas". 

Bula Sylabbus: Igreja x Maçonaria


D. Antônio Macedo Costa
Como algumas comunidades se recusaram a cumprir as ordens do bispo, foram interditadas. Para agravar a situação, o bispo do Pará, D. Antonio Macedo Costa, imitou as iniciativas de Frei Vital. 


A reação da Maçonaria foi imediata. Ela recorreu ao Governo imperial, que, através do Conselho de Estado, determinou que Dom Vital revogasse suas proibições, lembrando-o que a bula Sylabbus não havia recebido a aprovação de Dom Pedro e, portanto, não tinha validade no país. 

O bispo, em uma atitude inédita, retrucou que o poder civil não poderia intervir em assuntos espirituais. 

Acabou sendo condenado, junto do bispo do Pará, a quatro anos de prisão com trabalhos forçados. 

A crise ficou conhecida por "Questão Religiosa" e rompeu definitivamente as relações entre o estado e o clero, antiga base de sustentação do sistema monárquico. 

Apesar dos dois bispos terem sido anistiados em 1875, os padres continuaram a usar o púlpito para criticar a forma de governo vigente.

Charge a respeito da Questão Religiosa. Diz a legenda:
 "S. M. [Sua Majestade] aproveitou a ocasião para, não desfazendo do
 macaroni do Papa, fazer valer as vantagens e 
excelência de uma boa feijoada"

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