segunda-feira, 7 de março de 2016

Conceito de Mulher na visão de Simone de Beauvoir

“Não se nasce mulher, torna-se mulher.” – Simone de Beauvoir (1908 – 1986) Segundo Sexo – 1949

Simone de Beauvoir, filósofa francesa, existencialista, também conhecida por ser a parceira intelectual do famoso Jean Paul Sartre, escritora, ativista política e acima de tudo mulher. Como uma boa existencialista, Simone de Beauvoir, acreditava que ao nascermos não possuímos um objetivo específico para dar sentido as nossas vidas, mas somos livres para escolhermos aquilo que desejamos ser, ou seja, somos donos de nosso próprio destino para criar uma existência autêntica para nós mesmos.

Preocupada com questões e situações que desvalorizam a mulher na sociedade, Simone escreve sua obra de maior impacto (O Segundo Sexo) em um período conservador, que a mulher se via limitada a tabus e costumes que agrilhoavam a liberação da mulher a uma condição existencial de igualdade frente aos homens.

Para Beauvoir, as bases de todo o pensamento, valores e juízos humanos foram erguidas sob uma matriz Masculina, ou seja, todo o sistema de crença da humanidade foi construído em cima de padrões Masculinos. Um fato disto é o próprio conceito de humanidade, em que os homens são definidos como seres humanos e a mulher como fêmea (pág. 72, Cap. II SS). 

Segundo Beauvoir, todas as vezes que a mulher se conduz como ser humano, ela afirma-se como homem. Entretanto, mulheres não são homens, logo, a mulher é definida pela sua diferença, seja biológica ou fisiológica, como sendo o Outro sexo, ficando num limbo conceitual.
Neste sentido, Simone se pergunta: o que é a mulher? O que é ser mulher?
Buscando compreender o que é a mulher a partir de uma visão masculinizada de mundo, Simone, analisa os preceitos, mitos e tabus que sustentam essa visão de mundo, segundo a passagem do estado natural ao estado cultural a partir do modo de pensar as relações humanas sob as formas biológicas de oposições (Lévi-Strauss). 

O primeiro volume de seu livro O Segundo Sexo, a filósofa busca fazer uma desconstrução dos principais fundamentos desta razão machista, evidenciando incoerências ou insustentabilidades nas teses biológicas, psíquicas e econômicas.
Numa perspectiva fenomenológica em que o corpo é a chave de nossa percepção e realidade concreta de nossa existência, Simone sustenta que a relação que cada pessoa tem com o seu próprio corpo, com os outros ou com o mundo é fortemente influenciada pelo gênero sexual.
Na perspectiva biológica a mulher é a fêmea o ovário, tendo a perpetuação da espécie como seu principal pressuposto para definir o que é a mulher. Segundo Simone, a necessidade biológica do homem e o desejo de posterioridade coloca o macho em total dependência da fêmea; dependência que cria um vínculo irredutível de poder e submissão que é concretizado pelas relações econômicas em sociedade. 

Economicamente homens e mulheres constituem como que duas castas; em igualdade de condições, os primeiros têm situação mais vantajosa, salários mais altos, maiores possibilidades de êxito que suas concorrentes recém-chegadas. Nessa relação de dependência, como do senhor e do escravo (Hegel) a mulher acaba introspectivamente aceitando suas funções sociais assumindo o papel de fêmea.

Simone, não nega que existam diferenças biológicas e fisiológicas, mas essas diferenças não são suficientes para inferiorizar ou assegurar uma condição de menos importância às mulheres, sendo, portanto, uma questão de perspectiva. O fato é que a mulher é educada para pensar e agir de forma submissa. A sociedade é uma fábrica que constrói sociologicamente, moralmente e profissionalmente boas mães, esposas dedicadas e trabalhadoras do lar. Um exemplo disso é a diferença nas brincadeiras, nos brinquedos, na literatura e na educação das meninas, que mais tarde segue na formação profissional

Para Simone de Beauvoir não existe uma forma certa ou errada de viver, desde que seja uma existência autêntica e livre, portanto, casamento ou maternidade devem ser escolhas e não formas de realização das mulheres, pois a mulher é a dona de seu corpo e de seu destino.


Portanto, ao aplicar essa ideia de liberdade à noção de mulher, ela demandou a separação do ente biológico (a forma corporal com a qual nascem as mulheres) da feminilidade (que é uma construção social). Já que qualquer construção é aberta a mudança e interpretação, isso significa que existem várias maneiras de ser mulher. Logo, viver uma existência autêntica traz mais riscos do que aceitar um papel transmitido pela sociedade, sendo a liberdade o único caminho para a igualdade.

Por Alex Machado da Silveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário